A voz de quem continua presente

 Pensando em um tema para este texto lembrei que hoje é o Dia dos Avós. É uma data que acabou esquecida na memória dada a importância que estas pessoas tiveram e têm na vida de muitos de nós. Lembro bem dos meus velhinhos, ou pelo menos parte deles. Do meu vô Augusto levo pouco na memória porque não o conheci, mas carrego comigo o peso de seu sobrenome, Bousfield, do qual tenho grande orgulho. Quando vejo sua foto 3x4 amarelada penso que ela possa esconder muito mais histórias do que não conhecemos. Simpatizante de justiça social, como alguns dizem, escrevia para pessoas importantes da política e penso que, assim, sob esta ótica, talvez tenhamos mais gostos em comum do que possamos crer. 

Da minha vó Braulina, ou carinhosamente Vó Bola, lembro do colo, dos mimos e do jeito que me embalava na cadeira de balanço enquanto víamos juntas o Sítio do Picapau Amarelo. Mas ai de quem roubasse suas bolachas ou secasse as mãos em seus panos de prato! Não, não! Isso a deixava doida da vida. Sim, era meio brava às vezes, mas de uma braveza querida, típica de vó. Com a força de uma ilhoa e leoa nata, conseguiu enfrentar os desafios e encaminhar os quatro filhos para um futuro seguro. Como se diz por aí: a vida fez ela criar couraça e assim ela se criou para a vida. 

Já minha vó Nuta tinha os olhos mais azuis do universo. Azul de paz, que também transbordava em seus gestos e falas. Era de uma calma incomparável, e de persistência semelhante. Era tranquila, mas de um jeito tranquilo não fazia nada do que não queria fazer. Era um modelo de vó clássica. Fazia boneca de pano, tentou me ensinou a fazer crochê e obviamente cozinhava maravilhosamente bem. E o que dizer do meu vô Melício. Ele era ímpar (ímpar mesmo, nunca vi ninguém com este nome). Eu nunca vou entender o que foi meu avô. Caído cedo no mundo quando já não mais concordava com os ditos do padrasto, se criou por aí, solto na vida. E sabe-se lá o que se passava em sua cabeça que resolveu ser o melhor pai que eu já conheci. Meu vô, um semianalfabeto, tinha a cabeça no futuro. Quando ninguém falava da importância de se falar uma  língua estrangeira, ele dizia: “bota esses menino no inglês. Quem fala inglês fala o mundo”. Sábio meu vô. Sabedoria de quem deu seu sangue, o que podia e o que não podia para nos ver bem. 

Hoje, os avós já não vêm mais com a cara de avós de antigamente. Não temos mais coques, cabelos brancos, saias compridas e lenços. Hoje os avós estão moderninhos. Penso nos avós do futuro e me vem à mente a imagem de velhinhos com braços murchinhos pela idade e cobertos por tatoos psicodélicas compartilhando partidas de game com os pequenos. Tudo vai mudando conforme o tempo, mas que não mude esse lugar de afeto, de amor incondicional que são os nossos avós. Até a semana que vem! 

Dica de filme: É claro que não dá para falar em relacionamento com avós sem citar “Viva - A vida é uma festa. Pegue o lencinho e assista, você vai gostar. 

Ah, e dica de página para seguir: https://www.instagram.com/avosdarazao/ 




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